Por: Walter Brito
Durante boa parte de minha juventude, eu morei no Rio de Janeiro, quando tive um bom relacionamento com o meio artístico. Vale lembrar que antes de embrenhar-me pelo jornalismo e pelo mundo do Direito, fui professor de matemática e estilista de modas. No Rio eu atuei na área da moda, quando tive casa de alta moda feminina em Ipanema e Copacabana. Naquele período, eu morava na Rua General Ribeiro da Costa, quando tive o prazer de ser vizinho de Elke Maravilha.
Meu primeiro encontro com a estrela, do programa do Velho Guerreiro Aberlado Barbosa, o Chacrinha, se deu na Cantina Fiorentina, no bairro onde morávamos, o Leme. Elke estava acompanhada do namorado, de quem me tornei amigo, o contrabaixista Rubão Sabino. Eu estava com a Fátima, uma jovem médica psiquiatra, recém-formada. Eu e ela vivemos juntos por dois anos na capital maravilhosa. Naquela noite, Rubão contou tudo de sua profissão, quando escrevi uma bela matéria para o jornal Última Hora, dirigido naquele período pelo saudoso amigo, o jornalista Oséas de Carvalho. Rubão foi parceiro de Gilberto Gil e do internacional Dom Salvador. Ainda ao meu lado, em nossa mesa, os amigos e militantes da causa negra, os saudosos Zózimo Bulbul (cineasta e ator) e Oswaldo Ribeiro (advogado e sindicalista). Bulbul, naquela fase, tinha vencido no programa de TV, do apresentador Flávio Cavalcante, o concurso do negro mais bonito do Brasil. Ribeiro tornou-se, anos depois, o primeiro secretário de Estado negro no país. Foi secretário de Orestes Quércia em São Paulo, e em seguida, suplente de Fernando Henrique Cardoso, no Senado Federal.
Rubão sabino ficou emocionado, quando o autor de Sá Marina e País Tropical, o saudoso Wilson Simonal, saiu de sua mesa para nos cumprimentar. Certamente, Rubão Sabino, hoje, está de luto, lá no Espírito Santo, onde nasceu! Na terra de Roberto Carlos, o ex- de Elke curte sua merecida aposentadoria e relembra os velhos tempos.
Foi lá no Espírito Santo, também, que um dia do ano de 1992, eu cheguei acompanhado de Nelson Mandela, quando visitou o Brasil, pela primeira vez, após sair do cárcere, onde passou 27 anos. À época, eu era diretor financeiro e vice-presidente da Fundação Palmares. Assumi a presidência daquela instituição vinculada à presidência da República, para representar o presidente Fernando Collor de Melo, na cerimônia organizada para o líder sul-africano, no Palácio Anchieta e também no Estádio Cariacica. Naquela ocasião, governava aquele Estado, o afrodescendente Albuíno Azeredo.
O velório da Russa mais brasileira que já vi, está ocorrendo no Teatro Carlos Gomes, e o sepultamento será às 17 horas de hoje, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O vestido com que ela será sepultada, foi criado pelo estilista Breno Beauty, enquanto que sua maquiagem foi feita por uma equipe de maquiadores, que Elke adorava.
A última vez que vi a manequim, atriz e amiga de longa data, que faleceu ontem aos 71 anos de idade, foi no velório de outro amigo, meu e dela, Grande Otelo. Como dirigente da Fundação Palmares e por meio de um pedido do presidente Itamar Franco, organizei o velório do protagonista de Macunaíma, que morreu em Paris, quando ia receber um prêmio, pelos seus feitos no mundo da dramaturgia.
O velório foi no Rio, no Palácio Gustavo Capanema, com a presença de Leonel Brizola , Oscar Niemayer e a vedete Virgínia Lane, entre outras personalidades. O sepultamento ocorreu um dia depois, na cidade de Uberlândia, quando segui num avião da VASP, fretado pela Presidência da República. Comigo no avião, todos os filhos do Otelo, suas duas sobrinhas que moram em Brasília, e sua última namorada!
Como se vê, os personagens que citei neste artigo, em sua maioria, dos já morreram! Percebo que Deus tem sido generoso comigo e, em breve, lançarei o livro: 60 anos de um repórter, antes que eu complete 61.
Parafraseando o amigo, Júnior Friboi, que me convidou para seu aniversário de 100 anos, agora, que tem apenas 55, eu repito: vou chegar aos 100 anos trabalhando.
Que Deus faça o encontro, na eternidade, de meus amigos Elke Maravilha e Grande Otelo: dois ícones da cultura e da alegria do povo brasileiro! E acho muito importante lembrar que Otelo, além do Grande artista que foi, era dono de um coração imenso, um ser humano maravilhoso. E Elke, essa Maravilha de mulher, além de tudo isso, por trás da figura irreverente e gaiata, escondia uma figura humilde, porém intelectual, uma poliglota, que falava fluentemente oito idiomas. O Brasil ficou mais pobre. O céu ganhou mais cores!
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